quarta-feira, 6 de abril de 2011

"Porque vieste? - Não chamei por ti!
Era tão natural o que eu pensava, 
(Nem triste, nem alegre, de maneira
Que pudesse sentir a tua falta...)
E tu vieste, 
Como se fosses necessária!

Poesia! nunca mais venhas assim:
Pé ante pé, cobardemente oculta
Nas ideias mais simples,
Nos mais ingénuos sentimentos:
Um sorriso, um olhar, uma lembrança...
- Não sejas como o Amor!

É verdade que vens, como se fosses
uma parte de mim que vive longe,
Presa ao meu coração
Por um elo invisível;
Mas não regresses mais sem que eu te chame,
- Não sejas como a Saudade!

De súbito, arrebatas-me, através
De zonas espectrais, de ignotos climas;
E, quando desço à vida, já não sei
Onde era o meu lugar...
Poesia! nunca mais venhas assim,
- Não sejas como a Loucura! 

Embora a dor me fira, de tal modo
Que só as tuas mãos saibam curar-me, 
Ou ninguém, se não tu, possa entender
O meu contentamento,
Não venhas mais sem que eu te chame,
- Não sejas como a Morte!"

Carlos Queirós